Wednesday, October 3, 2007

Toiro

Dou por mim a pensar, de manhã é que sou de onde me venho, eu mesmo, como um peixe à superfície, mulher bonita de pernas esguias e alegria alta a pular da cama,
de manhã é que sou, feminino e ainda assim a guardar-me dentro de ti, gosto de mulheres bonitas, desculpa, corpo de relógio, nada me mata melhor o tempo que esse cemitério marítimo a sorrir-me sem pêlo, anda lá para trás de novo, como estavas à pouco sabias-me bem, as tuas costas deixam-me sozinho, às vezes sozinho, outras contigo, de manhã é que sou da minha língua a tua língua, como um som de bocas molhadas e qualquer coisa a crescer-me lá em baixo, não sou de grandes erecções, por isso as festejo quando grandes conseguidas, pareço um toiro, pobre coitado, pareço um toiro, de chifre animado e cavernoso, feliz se lá chega bem o sangue.
Gosto das tuas cuecas, tenho gostado das tuas cuecas, acho que as escolhes bem, se as escolhes, acho que sim, quero crer que sabes do seu tecido anatómico, da sua justeza às nádegas, do veio de onde veio ainda à pouco a minha língua, gosto,
tirar pela primeira vez as cuecas a uma mulher e saber que palavras ou sons incompreensíveis moram na sua boca, o carteiro não sabe de quem as cartas que lhe entregam, o que nelas vai escrito, ou quem as irá ler, o carteiro não sabe.
O efeito é gostar, e eu de manhã é que sou, roupa estendida na corda, asseado de cabeça por não ter medo, para não ter medo, tudo começou agora, tudo, casa arrumada, a luz abunda e espessa que daria para varrer com uma vassoura, a qualquer momento dissipar-se-á, sei que é assim, será sempre assim, a vassoura na despensa, e eu à espera, a fazer de conta que já não espero, que sei como é, a fazer de conta que sei.

2 comments:

Anonymous said...

cá para mim é mais "Boi"...

Anonymous said...

Ainda nada se dissipou e já lá vai...o quê? Um ano?
Gosto muito de ti como um Bear, não como um peixe porque escamas só as minhas que me retiraste com cuidado e carinho.

Beijo,
Emilia