Monday, November 24, 2008

O maestro e o clister na tripa.

Pode o fumo pendurar um cadáver na varanda de enchidos que a memória estende,
o fundo negro desse teatro de carne, onde as personagens ensanguentadas engordam as tripas.

Existem dois ou três lugares onde sou feliz, e raramente lá vou, porque para mim ser feliz é estar triste nesses lugares.
Morri no dia em que os meus avós morreram, um logo atrás do outro, como se um ao pão, e outro ao vinho fossem, horas de almoço.
Aquela casa de janelas altas para o chão que tinha, três degraus e nasceu uma porta, por onde entram agora, mais largos, dois jovens professores a aprender uma aldeia.
O meu pai estacionava o primeiro dos modestos carros que possuiu, eu talvez nove anos, o meu irmão sete, a minha mãe trinta, a minha mãe já teve trinta anos, custa-me tanto acreditar nisso, tem muito a ver comigo, não acreditar nos trinta anos da minha mãe.
Hoje era capaz de um salto, filho da puta, sobre as tábuas, para ir ter com eles, porque sei que os mortos não incomodando, também não abandonam assim as cicatrizes da cal, embora o restauro nos queira dizer o contrário, sei que não abandonam.
Estão nas fundações da casa, com o nó dos dedos a conferir a contra força, que o pai da minha avó usou há quase dois séculos, para levantar aquilo há idade de hoje,
vigiam tudo, e são tristes em nós.
A minha casa é o meu ordenado, um sítio sem memória, masturbo-me e uso o forno eléctrico, para a fome que isso dá.
Não há tábuas, nem almas, apenas uma esquadria de apelo à solidão, e ao desejo de ter que em mim morreu, como um hóspede na sua estrangeira forma de ser íntimo consigo num quarto.
O meu avô usou uma algália que lhe observou a morte pela bexiga, eu vou a caminho desse fio de urina de deitar fora o mijo à mão, sem dar a força à terra que o meu avô dava.
Nas costas da casa, um canteiro de rosas brancas que morreram de saudades do mijo dele, talvez eu seja uma das rosas, solta pela memória de lhe ter cheirado o quarto.
Aqui estou, com a vontade de uma bexiga nascente, cercar a jacto a casa,
sonhar que as rosas voltariam por ti, em mim.
Caganitas de cabra, em vez de fezes, as da minha avó.
Quando se morre de velho, vamos desta vida a cagar muito pouco, os velhos que não se cagam todos pelo descuido da idade, alguns.
Ela lá sabia porque se viciou em clisteres, um atrás do outro, estranha romaria, à não menos bizarra casa de banho, fora de portas, na arribana fria.
Um espelho colado no cimento sobre o lava mãos, e uma solitária sanita com balde ao lado, servido da água pluvia do tanque, no tempo em que ainda chovia.
Eu maestro da chuva, pés sobre a cama no sótão da minha tia, a combinar com os braços o latido das telhas, eu de pijama degolado ao frio de ser hoje, eu a feliz tripa, um dia.

Thursday, November 20, 2008

As palavras subiram pela casa, hei-de lá chegar um dia, abrir a janela sem o rosto das mãos.

Wednesday, November 12, 2008

Aniversário de amigas

Flancos de flores, manicómios de banheira e um fio de água na rasteira fotografia da vulva.
Sai daí sacana, se me atraso na mesa falho a cadeira, perfumo o pescoço e amargo uma língua.