Monday, July 23, 2007

Se algum dia vier a desenhar o meu Deus, usarei a figura do membro sexual masculino,
em grande, tudo em grande, como um Deus deve ser,
cravado de jóias na glande e no prepúcio, como um Deus deve ser.
certezas, nenhuma
sensações tantas, todas
vamos ficar retidos nos corações uns dos outros,
sempre que vier á superfície
a falta dessa companhia.

Friday, July 20, 2007

Respira, fundo, volta ao inicio, onde, o ar foi leve, uma, e por isso mais do que uma vez.
Encontra, o que te falta, para que encontres, tudo, o que te falta, mão, mãe, vida, punho.
Silencio, eu, tu, nós, outro, ainda, procuro, por ti, em mim, nada de água em agua, este desejo, parecido, de estátua, que mergulha, e emerge, sempre.

Tuesday, July 17, 2007

Acabei de cagar à pouco, e é a mesma coisa, a sanita tem a mesma distancia, o meu amor por ti mantém-se igual, não muda de figura quando cago, não quero mudar de figura quando cago, a menos que te desconheça, e eu quero conhecer-te sempre, de modo igual ao meu amor por ti.
Estou farto de ourivesarias nos lábios
- passa-me o papel higiénico, se fizeres favor.

Monday, July 16, 2007

Lugares

Conheço lugares dos quais gosto particularmente,
também gostarão de mim esses lugares?
Há dez anos atrás, mais ou menos, inaugurámos um beijo, vindo
da conversa de um dia inteiro, da noite anterior, sei lá de onde mais…
um balcão de bar e um estômago de bebidas felizes, um espelho em frente,
onde os olhos disseram, o fim da rua e uma parede como desejo.
Calámo-nos, o tempo suficiente da inquietação se revelar insuportável.
Foi então que calámos definitivamente as bocas, um no outro,
a parede ruiu e de lá saíram ruas, para novos espelhos.
Eu continuo a acreditar que o silencio fabrica a saliva certa de um beijo,
Conheço lugares dos quais gosto particularmente.

Sunday, July 15, 2007

…um dia, no Alentejo, gostei de estar vivo, acordei com um sorriso a sair-me pela cara, era uma coisa estranha, analogia que faço de um parto, e o nascido a sorrir-me contínuo na cara, levantei-me da cama, eu e ele, era um tumor de janela, daqueles que nos empurram para a vida, oferecem-te um relógio sem dígitos, nem ponteiros, e tu sorris para dentro desse tempo, com os olhos de alguém que acabou de nascer em ti.
Ofereces as tuas mãos e lavas-lhe a cara, os dentes, a barba, e as outras coisas que devagar continuam todos os dias.
…um dia no Alentejo, gostei de saber que vinham para almoçar, cozinhei tão devagar como as outras coisas, um arroz de tamboril com gambas, pus no muito frio o vinho branco, cerveja para quando chegassem, amor a rodos na casa.
Não digo o nome deles, porque para mim nunca terão nome, na excepção de os chamar, nunca terão um nome que os torne mais amados por mim, amor a rodos na casa, sobre as cadeiras, sobre a mesa, agua nas torneiras.
…um dia no Alentejo, jurámos estar no funeral uns dos outros, arroz de tamboril com gambas, vinho branco no muito frio, um abraço e um beijo na boca de um homem, na de uma mulher, um beijo na boca de um peixe, um beijo.
...em cada casa uma cama, duas camas, três camas, podíamos unir o sono e criar um arquipélago de camas, com senhas de saída para quem acorda cedo, e os pés de uns e outros no triangulo das axilas, na sombra do ventre, na inclinação do pescoço, escolher de um corpo um rosto, uns lábios, um objecto deitado, acordar-lhe a alma nessa quilometragem de corpos deitados.

Tuesday, July 10, 2007

A moral tem crianças lá dentro a morrer de fome.
Há dias em que não gostamos daquilo que gostamos,
há dias em que não amamos as pessoas que amamos,
há dias sem coração!
Agora quero uma mão da qual eu conheça bem a pele e o peso,
a dobra firme dos dedos quando se cruzam.
Agora quero uma mão, um fim de braço para o meio arco do andar.

Monday, July 2, 2007

Tenho tantas saudades da tua língua, tenho tantas saudades do que é teu.
É a pureza do teu olhar que eu amo, é esse o negócio.
Se não és água nem vinho, não te conseguem engarrafar.
...então sugerem um fruto qualquer.