Thursday, June 28, 2007

É nojo amor, é nojo
excremento mole em casa rica, diplomacia domingueira.
As moscas são de uma beleza extrema quando pousam nos olhos de uma criança,
é nojo amor, é nojo.
Eu estou contra, eu procuro
gasto saliva no muro,
é de papel, nós sabemos, é de papel
de rede e ar quadriculado,
uns furos acima, ainda quer dizer furado.
Há momentos em que as coisas ficam tão bonitas, tão sossegadas,
não nos pertencem na maneira como existem.

Mata-te, enquanto ainda medes um metro e oitenta e quatro.

Mata-te, enquanto ainda medes um metro e oitenta e quatro.
Olhos castanhos, caracóis de cabelo e o lábio superior quase inexistente,
mãos magras de nunca as ter dado a ninguém.
Mata-te enquanto o aeroporto ainda se situa na Portela,
se for lá serás noticia,
como diz o Sampaio ninguém morre sozinho.
Sobe nu ao edifício maior da capital
arranjarão um médico de saúde mental.
Tudo o que ele te disser
aumentará o teu desejo suicida,
amplifica a conversa, instala microfones
cria temporariamente um feedback com a vida.
Pede uma garrafa de vinho Rodrigo
um fotógrafo e um padre que já tenha feito amor
um colar de amêijoas, um pão de trigo
e o mesmo avião inibido de motor.

Tuesday, June 26, 2007

Tenho saudades de gente que não interessava a ninguém, interessava-me a mim.

Thursday, June 21, 2007

E na mesma memória uma mensagem escrita, bela porque anónima,
feliz porque oportuna, me encontrou carente de gente poética.
-Tenho-te a ti, sem rede e sem dinheiro, sem um s.o.s,
falhei uma curva, sei que são as minhas pernas, e nunca usei gasolina como after shave. Amo-te Sofia.
Não li jornais, não vi televisão, e da minha casa para o trabalho o caminho é sempre em frente.
Já fiz amor desse modo e devo dizer-te que se a voz da companhia colaborar é muito estimulante.Tenho por certa a ideia que a honestidade quando à distância é muito mais importante
O meu sangue é assim
Quero que sejas tão feliz quanto eu quero ser
Por vezes invejo-te
O meu sangue é assim
Quero que sejas tão feliz quanto eu quero ser
Mas por vezes invejo-te

Wednesday, June 20, 2007

Quando uma mulher nos faz a cama, ela nunca se desmancha

Thursday, June 7, 2007

Quando o nosso amor tinha braços, e ele um dia teve braços, mais do que dois, pelo menos quatro, em cada abraço, pelo menos quatro.
deram-me a mão e eu preferi um pé.

Wednesday, June 6, 2007

um gato no meu colo

disse o teu nome baixinho para ver se tu vinhas, sem acordar o meu gato, mas ele ouviu e sentou-se-me no colo, se tivesse um gato, seria mais ou menos assim que seria, um gato no meu colo, depois de eu dizer o teu nome baixinho, para ver se tu vinhas.

Monday, June 4, 2007

...uma família inteira

-Tens sede?
\Não!
-então o que tens?
\nada.
-outra vez?
\sim.
-Mostra-me as tuas mãos, tira as luvas e mostra-me as tuas mãos,
\( sorri sem tempo nos olhos) não!
-o comboio há muito que aqui não passa.
Ficou a linha aí esquecida.
Fizeram outra lá atrás,
Matou-se aqui uma família inteira.
Iam todos para a Covilhã, perderam o comboio, mataram-se!
\Mataram-se?
-Sim, esperaram que passasse o próximo, como era de mercadorias mataram-se!
As malas ficaram, acho que ainda ali estão!
\Perderam o comboio e mataram-se, não achas isso estranho?
Ninguém se mata por perder um comboio!
-Pois, mas estes mataram-se mesmo, eram cinco, morreram os cinco.
Um pai, uma mãe, dois filhos e uma avó, atiraram-se para a frente dele.
Ou iam todos, ou não ia nenhum, também era assim para a covilhã.
\olha, se iam para longe foi melhor assim, não se perdeu nenhum, chegaram todos juntos.

Sunday, June 3, 2007

Gosto de ti
no amor e na doença
gosto de ti
apesar de tudo
gosto de ti
ainda
pelo que em nós ficou por gostar
gosto do atrevimento com que ousámos separar
as nossas vidas.