Wednesday, February 27, 2008

A mãe.

Um dia morrerá a mãe, a quem não beijo a boca, nua no banho a depilar-se com creme em véspera cirúrgica, a mãe a quem chupei as mamas, os dias e as noites, um dia morrerá.
Conheço-te o cheiro e abraço-te tão poucas vezes, não lembro a última, deve ter sido há muito tempo, é triste dizê-lo, quando morreres abraçar-te-ei a carne fria, beijarei os teus lábios gelados, e uma lágrima minha correrá sobre o teu rosto, quente ao dizer-te tudo, uma lágrima minha juntar-se-á a essa neve onde tudo acaba e só o coração lá continuará a chegar, uma lágrima minha e pouco mais será preciso.
O que pensará a mãe do filho, porque não me abraça, não me beija, quando eu sei que me gosta muito, o que pensará a mãe, a mãe de quem eu gosto e debaixo saio desse amor, ainda há pouco uma sombra de tetas, agora luz vinda dos seus dentes para o meu pescoço, agora, vai, com o absurdo de me amares faz dele uma flor, todos os dias teus,
lembra-te de mim é o que quer dizer esta ausência de tocar-te, é a nossa união mãe,
o nosso silêncio a demorar-se nas mãos e nos lábios, o amor que grita lá de longe como um músculo a rasgar-se. Mãe, escureceu de repente, queria ter-te abraçado, ou talvez não, sabia eu desse abraço, sabia eu que era este.


Quando se trata de perder o que se ama é sempre cedo.
Não quero máquina de café, água só de jarro, pode ser necessário lavar a cabeça de alguém,
choro e festas de mão na cara dos filhos nem pensar, destapá-la, fodo a tromba de quem tentar, eu, meu irmão, meu pai, só.

Monday, February 18, 2008

Pescoço

Para onde corres tu que és outro quando corres, cegueira meu querido, pela renda da casa, a casa toda, a grande casa, maior que a cegueira sempre, esfolado de mim e percebendo cada vez mais que só assim, adoeci para a subsistência, não para o conforto, adoeci para inclinar o pescoço na fotografia diária, já corro e fotografo, estou louco, ou pelo menos mais perto de estar, levanto os braços, só não bato no peito porque não gosto de macacadas e depois fico triste de repente, perco elasticidade e mirro, vou para dentro e adormeço, porém, há noites muito acordadas e longas, onde a tristeza se espraia, suja margens e pensa por nós como óleo na água, noites longas, tão longas, quanto o medo do pescoço não esticar amanhã.