Wednesday, May 27, 2009

Morta

Abriu as pernas e o tempo parou, como se um relógio houvesse, dentro dela, todas as horas íntimas e segundos de sangue gotejando para o átrio das coxas, não me lembro de outra coisa que não isto.
A vida conhece-lhe o cheiro, o chão e os passos, todos os dias do horário, porta atrás de porta, boca que mastiga um funeral de pão, quantas pessoas já fui, quantas matei, de que morreram as que salvei, quantas; as mãos como mães empurrando a água à cara, os filhos descendo o mesmo rio, para mais logo, quando for noite nos braços, as estrelas subirem para a mais absurda das geografias.
E o tempo de te abraçar, onde está?
Marcar o ombro de uma manhã como um livro, eternamente ali, sem fúria, sem o dedo húmido para mais uma página; de que morreu ela tenho eu na língua que engoli.