Sunday, September 9, 2007

Mafalda

Os anos passam Mafalda, como passam os ossos tenros, ombros para o lado de fora do teu sexo, ou ainda mais para dentro porque o teu coração pode.
Todos os dias me nascem amores, nas mãos e nos pés, porque olho com atenção esta doença de vivo, nunca me separo dela.
Repito-me, repito-me sempre, não sei ser de outro modo senão a repetir-me, dizem que as pessoas só se encontram quando se repetem, julgo perceber a ideia, mas não caso com ela. É só uma voz, prefiro que seja assim, uma voz a chamar-me para as mesmas coisas, para os mesmos lugares de dentro, os mesmos sítios de fora.
Por onde me andaram os pés é lá que estou, o futuro dentro de mim como uma pequena ponte em construção, tábuas de gente esforçada de amor, porque ele existe assim, o amor também existe assim, tábua à tábua.
A engenharia manda e o homem fecha os olhos, paga a portagem, tem a sua ponte à noite quando sonha, há tanta tábua solta por aí, de chão e de telhado, perder o equilíbrio sobre um charco e saberem da viagem que caímos.
Que importa Mafalda, se o amor da voz nos empurrou por tudo nos ter escutado, sabe de nós como ninguém nos habita o corpo, quando a mão me treme para uma simples assinatura, achas que é o meu nome que receio, as pernas lassas por saber quem levam.
Não. Madeira aos ombros e casa para todos, é esse o exército, toalhas sobre a erva e rodas de crianças, pão fresco e gente pregada àquilo que é.
Assim a existência não range e assina de amor os rostos felizes quando chove.

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