Tuesday, September 11, 2007

Afonso

Não tenho nada para te dizer, se te demorares diante disto, vais acabar por perceber que nada tenho para te dizer, fumo o cigarro que se um cão fumasse, fumaria assim, no tapete da entrada, nem focinho que levante, nem rabo que maneie a visita.
Estou internado para simpatias, Afonso, que de Henriques estou farto de reis, uma casa lá fora…
Já não estou para isso, ando cheio de cadáveres de gente rica, pesam mais agora que se calaram, ficou muita estupidez lá dentro, tenha dentes a terra.
Ando muito calado, dizem, já não ando, calei-me.
Dois botões e uma fivela, um veado caracol marra lento na carcela, vou mijar como quem vai à vida com a importância que lhe dá a bexiga, só isso.
Torresmos sim, se for para comer torresmos vou, é por ali, como me diz o sodomita, dou prazer ao gajo, e como a sandes, é de torresmos, vou.
Não é estar sentado que me custa, de pé dói-me a ideia que espero alguma coisa, na cadeira o pescoço entende-se melhor com os pés, vê-los de outra maneira.
Dois dedos são da família, os outros já não, enlouquecer e continuar a fumar é o que ainda segura a sanidade, um broche de lábios, só, de lábios, junto ao cigarro.
Amanhã é quarta feira dia de lúcidos e aprendizes do desvio, espero que a outra traga a filha, venha esta de saia rasteira à cona, como é hábito, a miúda masturba-se nas latrinas e acaba a dizer que o pai foi aviador quando morreu, é doida, mas acho-lhe graça mesmo fora da saia.
O dos relógios não diz as horas a ninguém, ninguém lhas pergunta, nem o filho que tem tempo, coitado, não pode ter um véu de unha longe da boca, morde-se todo.
Ainda vive o gordo, acho que a transpiração o tem salvo, nem sei como consegue, é um poro chuva que ali anda, a mulher ferida de cama nem sonha o coração dele.
Cala-te, vai para dentro, deixa-te de visitas.

No comments: