Sunday, December 2, 2007

Uma sopa no inverno

Lembras-te Fernando, sei a sangue que sim, mas não me ocorre outra forma de te chamar para junto de mim, lembras-te, nós os dois em Óbidos, domingo de manhã, e aquela luz única, de dentro, de fora, de tudo, luz, quando nos sentimos felizes até a calçada nos sorri, e tapetes debruçados nas janelas,
gente que ali vive entre muralhas de abraçar a defesa, onde o calor da tarde namora a sombra fresca, lembras-te.
Os dois de arlequim, a cantar para o chapéu, deu para o almoço.
Uma pequenina de cabelo trigo, que nos levou para dentro do coração dela, quero crer nisso, que um dia virá um palhaço, um outro arlequim, uma canção, um sorriso, uma febre, e ela dirá, lembro-me.
Volto para dizer que quando se despediu timidamente de nós, o olhar dela não levou o sentido dos pés, acabou lá longe, quando virou a cabeça, e depois disso já deve estar crescida.
Fernando, amigo, por vezes digo para mim, porque sou de saudades, porque sou tanto do que fui, antes que me digam a batida, porque somos o que fomos e aquilo que nos fizemos, está bem, gosto de voltar, é simples e chega.
Foram boas as viagens, amigo, manhã cedo, como eu gosto de manhã cedo, como se fosse um lugar, que o é, e a minha respiração sabe-o, o dia a nascer à direita da minha casa e eu com ele, vindos do sono como uma sopa no Inverno.

2 comments:

Anonymous said...

Que sopa deliciosa,
de tão grande cozinheiro,
que sabe tão bem cozinhar as palavras!

Jinhos!

Unknown said...

....pois é..... uma sopa no Inverno vinha mesmo a calhar...e esta pelos vistos para além de ter as caracteristicas de todas as sopas tem um dom especial...serve de mote a um texto magnifico e deveras bem confenccionado.

A fase das ameijoas já lá vai.....o jantar tambem parece que vai pelo mesmo caminho...vamos tentar a sopa no inverno?

Fica bem e vai dando noticias.
Marta