Monday, March 31, 2008

Rural magro, o pássaro

Dinis a sala é grande, sujeita-te, abre os olhos e limpa o espaço, não imaginas as coisas que nos passam pela cabeça, mulheres nós sabemos como as telhas de um telhado, o sol quando quer descobre-as, envia um raio de luz e assenta na mesa um queijo puído de bonito, um copo de vinho tinto e ainda se puder ser, os lábios mais amargos desse fim de tarde no mundo rural magro.
Tens de comer Dinis, tens de te alimentar, uma mulher virá um dia, quem sabe mais logo pela mortinha de hoje, quem sabe.
Debaixo do feno está um pássaro, garanto-te que está, é pequeno e de cor também pequenina, discreto como o amor de um tímido, masturbando-se junto do tanque na oficina de sapatos, raio de sítio rapaz, um gajo nunca saber o sexo dos atacadores, que raio se sitio rapaz.
Na serra dorme-se bem, dentro de um carro, vidros abertos e o alecrim a virar-se para nós, Júlia nunca mo tinham beijado assim, garanto-te que não, um caralhão destes há muito não vira, pobre do pássaro sai daí, que violência usar vidros num país sem janelas, feno e velas num desejo a Verão adolescendo, tinhas quinze anos Júlia, meias rijas e cuecas lá dentro, nunca lhes perdi o cheiro, o suor que na palha canta um pequeno galho, eu Júlia e o meu caralho feliz dentro do palheiro.
São os anos a carregar sobre o sangue de ontem, a tentar um lugar na terra, uma pedra, uma raiz nunca a descoberto por ser de água, o nosso nome nunca perguntado para que serve, soar um túnel, o nome é mesmo um túnel, e só isso, sem gente nesse lugar de céu aberto como um coração infinitamente azul, onde um pássaro cresceu para ser noite.

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